Capítulo 5 / A vida segue seu rumo

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             Encontro Dona Tereza e seu Alexandre no saguão do hospital desolados....

             Arthur teve um choque anafilático, no Motel, depois da transa, quando comíamos camarão. E permanece inconsciente há 30 dias. Não é normal, um paciente não se recuperar do choque, depois de algumas horas e do antídoto. Há trinta dias ele está nessa cama imóvel e os médicos suspeitam de uma outra doença, esclerose múltipla. Mas, ele é tão novo! Apesar dos exames, os doutores ainda não têm um diagnóstico definitivo. Era preciso, ele estar vivo, para dar as informações que precisam.

           Às vezes, sento-me ao lado dele e leio nossas histórias. Aqueles livros que gostamos e já comentamos. Percebo seus olhos marejarem, contudo, os médicos atribuem isso a um funcionamento de seu corpo, uma coisa natural em pessoas em coma.

           Sinto que ele me ouve. Não consigo explicar porquê. Acredito nesse saber. É uma certeza dele estar pensando em mim, também. Como se nós dois tivéssemos uma correspondência não falada, onde nossos corpos se comunicam. Sua expressão é de quem está me pedindo socorro. Se ele entende alguma coisa, deve estar desesperado pra me enviar algum tipo de mensagem. Sempre existiu uma preocupação dele, genuína, comigo. Era nosso elo mais profundo. Sabíamos o que estava ocorrendo em nosso pensamento.

            Arthur me dizia:

            - Helena, não adianta esconder seu mundo mais íntimo, eu percebo e sinto tudo o que acontecesse dentro de você. Essa frase, ele me dizia muitas vezes e criava uma intimidade assustadora, de estar sempre sendo descoberta em todas os segredos e sensações pessoais.

            No entanto, quando venho aqui pressinto algum tipo de experiência impossível para os médicos acreditarem em sua existência. Porém, nossos corpos sempre se entrelaçaram e ele percebia todos os meus sentimentos e eu os dele. Nada pode ser mais desolador ao experimentar impressões inexistentes para outras pessoas.

           Seus pais estão desesperados. Precisam tomar uma decisão. Ele terá que ser transferido para outra unidade de pessoas em coma, para que façam a manutenção de seus órgãos, pelo procedimento de Criogênesis (uma técnica de congelamento de partes dos seus órgãos). Dr. Alexandre, seu pai, acha que tem chance de congelá-lo, por dez anos e se obter a cura dessa doença. Mas, tudo é muito recente. Eles não conseguem lidar com isso agora. E eu, ainda espero Arthur acordar. Já estive com uma pessoa que viveu em coma por 7 anos e um dia despertou.

           Vamos ver o que acontece agora com a transferência desse hospital que está. Eles são os melhores, em coma, dessa cidade. Porém, não tem Criogênesis, para armazenagem dos órgãos que seu pai quer mandar fazer.

            Irei voltar todos os dias e ler para ele, mesmo que seja, apenas, 5 minutos.

            Lembro da noite que estivemos juntos. Há tempos, não ficávamos unidos, assim tão gostoso. A dança sempre nos aproximava e eu gosto desses ritmos latinos, assim como ele também. Prefiro a zumba e ele a salsa.

           Em minha mente aparece a transa do último dia. Ele estava perfeito, dominador e ao mesmo tempo ultra cuidadoso comigo. Levou-me a loucura na piscina e depois na cama, sua performance perfeita deixou um jorro de amor dentro de mim inesquecível.

           Nesse tempo, em que ele está desacordado, tenho sentido algumas coisas se modificarem em meu corpo. Preciso deixar de vir aqui, por um dia e fazer um exame de BHCG, para tirar essa dúvida da minha cabeça. Será que fiquei grávida naquele oportunidade? Devo estar sonhando acordada. Nunca engravidei, nesses anos todos, juntos. Achei que não poderia ter filhos e, atribuí a distância que ele tinha de mim, à esse fato. Ele sabia que não precisava se preocupar com camisinhas ou com a responsabilidade de ter bebês.

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