ALEXA

                                    

                                              


                          
                  A última vez que estive em uma festa foi aos quatorze anos no aniversário de Brianna Johnson e nada nela envolvia o que acontecia ali. Não tinha álcool, luzes piscando desgovernadamente, toda aquela música alta e muito menos adolescentes se esfregando nos quatro cantos da casa. O aniversário de Justin Bieber era um nível de festa totalmente diferente do que eu tinha em mente. 
                          
Do outro lado da sala eu pude ver Cristoff erguendo um copo em minha direção, que eu espero muito que não seja álcool porque vou odiar cuidar dele no fim da noite. Cris fazia passos de dança engraçados junto a seus amigos do segundo ano, que eu duvido muito terem sido convidados e que provavelmente ainda estavam ali porque ninguém sequer notava a presença deles. 
                          
Caminhar com Justin Bieber em uma festa daquele porte era o que eu menos esperava em toda minha vida. Ele carregava meu cilindro, desviando das pessoas e abrindo caminho para mim em direção da área mais arejada, onde ficava a piscina e alguns adolescentes aproveitavam para conversar e fumar. 
                          
Só em pensar naquele fumaça entrando em meus pulmões eu já consigo sentir a falta de ar. 
                          
— Ryan! Chaz! — Justin grita, chamando a atenção dos dois garoto que outrora se ocupavam em beijar suas parceiras: Naomi e Kendra. Quando recebe seus olhares, ele gesticula com a mão os chamando para se aproximar de nós. 

                          
Em um gesto desesperado eu organizo meus cachos e checo por trás da orelha se a cânula está segura e bem posicionada. Conheço Ryan da aula de literatura avançada. É esperto, atencioso e um dos alunos mais inteligentes da classe, amigo de todo mundo e até mesmo do nosso professor. Nos falamos somente uma vez, quando nossos nomes foram sorteados para um exercício rápido. 
                          
Duvido muito que se lembre de mim. 
                          
— E aí, Bieber. Tudo tranquilo? 'Tá precisando de alguma coisa? — Chaz fala com a voz arrastada, seus olhos estão caídos e ele se apoia em Ryan para não cambalear. Está mais bêbado que Justin. 

                          
— Hey, Alexa! — a voz de Ryan sai mais alta que deveria, ele tem um sorriso largo cobrindo o rosto e seus olhos estão avermelhados o suficiente para destacar o azul de suas íris, mas isso não importa porque ele se lembra de mim. 

                          
Eu sorrio de volta, acenando brevemente para ele. 
                          
Você é uma criança de cinco anos, por acaso? Por que acenou desse jeito pra ele? 
                          
Não podia ter simplesmente balançado a cabeça como uma pessoa normal? 
                          
— O que é isso no seu nariz? — Chaz questiona, me trazendo de volta a órbita, apontando para o próprio rosto tentando me explicar o que estava falando. 

                          
— Cara, que tipo de pergunta é essa? — a voz de Justin passa por cima da música, soando irritado.

                          
— Tudo bem! — digo sorrindo, aquela não é a primeira vez que me fazem esse tipo de questionamento — isso se chama cânulas nasais e me ajudam a respirar. 

                          
— AH! SIM, SIM! — Chaz grita como se estivesse acabado de ter uma pequena epifania — você é a garota com câncer! 

                          
— É, essa aí mesmo. 

                          
Não é algo que me deixa irritada. São cinco anos lutando contra uma doença que me mata aos poucos, Charles Somers chapado demais para não ter controle da própria língua é o menor dos meus problemas. 
                          
— Qual foi, Chaz?! Sua mãe não te deu educação? — Ryan se intromete, dando um peteleco na testa do amigo que corresponde fazendo um biquinho.