Início de noite √

                                    

                                              
02/07/2010
19:12 PM
                          
•Sophie•

                          
  Subi as escadas com cuidado, enquanto a madeira velha e com marcas de desgaste e cupins teimava em ameaçar ceder, num som compassado e repetido. No segundo andar a sala pequena continuava como antes: a luz branca e fraca com algumas teias de aranha se arquitetando sobre ela, as janelas grandes com a moldura simples de madeira e os vidros sujos. As duas poltronas pretas ainda posicionadas perto das janelas, rente a um tapete cinza no centro e as paredes de madeira com mais marcas de cupins. Um pouco adiante a porta dava ao corredor dos quartos, onde tinham dois de cada lado e o banheiro no final.
                          
  Segui caminhando, enquanto teimava contra a minha respiração tensa. Entrei no quarto de número um, era o primeiro quarto do lado esquerdo. Foi o quarto em que fiquei com Johnny há dez meses atrás, e onde ficaria com Lucky, pelo fato de ser o único com uma cama mais espaçosa, de casal. A cama continuava com lençóis brancos perto do armário grande de madeira, ainda posto no mesmo lugar, alguns espelhos e janelas pelas paredes, um tapete bege peludo jogado ao lado da cama e tudo bem velho e agora ainda mais empoeirado.
                          
  Ouço um barulho inesperado na porta, e pelo susto sinto o coração cogitar parar e o corpo tremer. Virei-me rapidamente, assustada. Era apenas Catherine, que me encarou com um sorriso triste estampado no rosto pálido.
                          
- Sophie, é hora de largar o passado, agora você tem o Lucky e vive bem com ele. É um outro momento! - Catherine disse, e seu olhar era crente em saber o que eu estava sentindo, apesar de ter errado.
                          
- Eu estou bem, não precisa se preocupar. Você já sabe em que quarto vai ficar? - falei para ela de imediato, não querendo me incomodar com suas palavras.
                          
- Sim, estávamos decidindo isso agora. vou ficar no de numero três, com Loren - respondeu, revirando os olhos, pois assim como eu, não conseguia sentir afinidade pela garota.
                          
- Então o Mike e Jack vão ficar no dois. - sugeri.
                          
  Mike e Jack ficariam no quarto de frente do que eu ficaria com Lucky e Catherine com Loren no do final do corredor, do lado direito, de frente com o quarto de número quatro. O quarto em que não podíamos entrar. Com Johnny não pensei tanto na possibilidade abri-lo, mas agora sem ele presente me parece mais banal a restrição do Sr. Edgar, mesmo que queira me fazer acreditar que nada mudou.
                          
- Venha, vamos descer, quero preparar algo para comer. - Catherine disse, puxando-me pelo braço.
                          
- Vamos, também estou com fome! - respondi, já sendo levada.
                          
  Quando descemos a escada e olhei para a sala Mike e Jack conversavam até esboçando um nível de intimidade, como se já se conhecessem de antes. E meio segundo depois percebi a ausência de Lucky e Loren no ambiente, que foi seguido por um pequeno estrondo vindo da cozinha. Minha mente trabalhou em hipóteses sobre o que Loren teria coragem de fazer no tempo em que bufei e apressei o passo até a cozinha, tomando a frente dos três seres que também foram averiguar o que havia acontecido.
                          
  Quando cheguei me deparei com Lucky encostado na pia, visivelmente querendo se esquivar. Loren jogava suas mãos pequenas no peitoral quase definido dele, enquanto aproximava seu corpo forçadamente, com uma cara de tirana que sempre estava estampada na sua face. Ela era um poço de depravação e de barbárie pervertida.
                          
  Joguei toda a força do meu corpo indo em sua direção, e quando imaginei está agarrada a sua pele suja sinto uma dor pontiaguda vinda meu pé, somente quando ela me enxerga quase rente aos seus corpos.
                          
  Gritei, olhando o sangue manchar a madeira velha do chão. Havia pisado em um dos cacos de vidro que só agora tinha percebido a presença, espalhados pelo chão da cozinha. Não costumo usar chinelos, nunca me senti confortável os usando. E dentro daquela casa, ainda que sendo antiga, não achei que aquilo poderia acontecer.