II - O primeiro dia

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Segundo dia do ano 853.

Aquela manhã ensolarada trazendo os ventos do sul, demonstrava que os seis meses frios haviam acabado, era um novo ano. Nathan ainda se lembrava do Festival de Renovação da Vida, quando os Coran's que moravam além da ponte se misturavam com as pequenas famílias de Patriw's ao sul dela, todos reunidos na Velha Árvore Ribeira para celebrarem o fim do mês da Serpente e o início do mês da Luz juntamente com a família imperial.

Naquele dia, o garoto acordou em um susto, sentindo-se despertado pelo azar, levantou atordoado, tomou um banho rápido, se vestiu e lembrou das palavras de seu avô quando lhe mostrou o colégio na noite do festival.

- É Nate, esse ano você terá grandes aventuras. – disse Oliver apontando rumo à Montanha do Anoitecer Agradável

As palavras dele foram de encontro às dúvidas de Nathan, parecia até que tinha lido seus pensamentos sobre o colégio.

- É lá que fica o novo colégio... – respondeu o garoto, desanimado.

- Colégio? – retrucou Oliver, espantado. – Não Nate, estava falando das garotas ali, viu?

Ele sorriu com a lembrança, da mesma forma que riu naquela noite. Aquilo o fez, por um pequeno momento, ver seu primeiro dia de aula com outros olhos. Mas ao olhar o relógio da sala voltou a se afligir. Segundo I'Fidden as aulas começavam nas primeiras horas da manhã, os ponteiros já se encaminhavam para a metade delas e, mesmo que agora fosse cavalgando, ainda assim chegaria com atraso.

Assim que pegou sua bolsa, correu para ir ao abrigo de Bounce. Ainda tenho que selá-lo, resmungou ao sair pela porta.

- Ei, Nate, para onde vai com tanta pressa? – perguntou Oliver vindo da selaria.

- Oi vovô, - respondeu Nate calçando as botas. – estou indo selar Bounce, hoje é meu primeiro dia de aula. E o senhor, o que faz acordado?

- Quem dorme muito, perde a vida. – rebateu Oliver desaprovando a pergunta. – Bounce já está selado, fui com ele ao padeiro, está atado na frente da selaria.

- Que ótimo vovô, estou atrasado. – o alivio ficou claro nas palavras do garoto.

- Espere garoto, não comeu nada, - mesmo demonstrando ser um homem carrancudo algumas vezes por ter seus princípios e valores, Oliver sempre se importou muito com o bem estar de sua família. – a primeira refeição é a mais importante do dia. Venha tenho café, leite e pão na selaria.

- Sinto muito vovô, mas não tenho tempo. Já devia ter ido.

- Não despreze o alimento que eu trouxe, garoto. Sabe que não gosto de ver nenhum desta casa com fome, deixei meus vícios por causa desta família. – ele pegou Nathan pelo o ombro e o foi levando para comer. – Já contei sobre o dia em que deixe de tomar vinmel?

- Várias vezes vovô, o senhor saiu para comprar vinmel com os únicos laures que tinha e quando viu que o preço de uma garrafa era o mesmo preço do pão, decidiu nunca mais beber. – Nathan foi falando juntamente com Oliver enquanto ele repetia a história.

- Isso mesmo, agora sente-se aí e coma a primeira refeição.

- Comerei no caminho, prometo. – Nathan pegou um dos pequenos pães e já foi indo até Bounce.

- Espere, espere. – Oliver foi até um dos armários em que guardava suas ferramentas e trouxe um embrulho. – Eu achei que acordaria mais tarde, fiz isto para você, para comemorar sua nova aventura.

- Nossa, vovô... – Nathan já foi retirando o embrulho. – não precisava. É uma bela jaqueta de couro.

- Fiz o acabamento hoje, mais cedo, confesso que foi complicado fazer o entalhe do dragão frente a lua, mas acho que ficou bom.

Alma de DragãoWhere stories live. Discover now