Capítulo 1 - O clube

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— Estamos reunidas neste quarto, apertado e quente, em nome da nossa companheira e melhor amiga Rayssa que tem um comunicado importante a fazer e não pode esperar a volta às aulas. — revirou os olhos e bufou.

— Não precisa ser irônica, Fabi. Eu preciso conversar com vocês! Não sei mais o que fazer e vocês são as minhas melhores amigas, droga!

— O que foi que aconteceu de tão grave para você nos tirar da festa de despedida de verão da Rebecca e nos arrastar até o sótão fedorento da sua casa ?

Rebecca adorava organizar as festas informais do colégio em sua casa e sonhava em virar uma grande produtora cultural. Todos os alunos da Escola Francisco de Oliveira adoravam seus eventos e a maioria das garotas se arrumava bastante para conquistar os garotos que só queriam saber de joguinhos no celular na escola, mas nas festas se transformavam. O único problema era a popularidade de Rebecca que incomodava muito a Lu e a Fabi. Elas morriam de inveja, por isso quase não falava sobre ela, só mesmo quando íamos às festas e mesmo assim muito pouco. Quando começava a elogiar a menina, elas ficavam furiosas.

— Ótima pergunta, Fabi! Afinal, eu passei o verão inteiro tentando falar com você por todos os meios de comunicação possíveis e você me ignorou de todas as formas. Ah, e ainda não me pediu desculpas. Acho que vou embora.

— Meninas, por favor! Eu preciso muito de vocês e posso explicar tudo, mas vocês precisam me ouvir e parar de me julgar. Eu sei que errei em ter me afastado de vocês durante este tempo, mas eu estava hipnotizada pelo amor e não conseguia pensar em mais nada além do... — respirei fundo e encarei minhas amigas por alguns segundos, antes de revelar o segredo mais inusitado do clube.

Luísa me encarava de saco cheio, mas eu sei que no fundo ela estava bem preocupada com a minha revelação. A minha amiga era impaciente, esquentada e implicante, mas tinha um coração de ouro e sempre me ajudava nos momentos de angústia.

Mari estava preocupada e roía as unhas. Fabi fingia olhar o Facebook, mas eu percebia suas orelhas se aproximarem quando comecei a falar.

Eu conheci Fabi, Mariana e Luísa no quarto ano e desde então não nos desgrudamos mais.

O clube foi criado em uma noite catastrófica em nossas vidas: o dia do nosso primeiro beijo. Fabi cismou que nós tínhamos que perder a BV juntas, que seria muito bom poder compartilhar as fofocas sobre as babas e línguas nojentas depois do acontecimento. Cada uma escolheu um garoto da sala e combinamos de "atacá-los" com jeitinho pouco delicado na festa que Rebecca organizou com os meninos do 5º ano B, mas eu fiquei com medo e acabei não indo. Não sou muito chegada a festas e essa história de perder BV juntas me aterrorizou.

Só que de nada adiantou fugir do primeiro beijo, pois fui jogar vôlei na rua com o meu vizinho e ele me roubou um beijo quando tentou tirar um cílio do meu olho. Foi nojento e gostoso ao mesmo tempo. Eu fiquei com vontade de vomitar com tanta baba e liguei imediatamente para as meninas. Nos encontramos no dia seguinte e resolvemos montar o clube para aliviar as tensões e compartilhar nossos sentimentos longe de nossos pais que sempre querem saber tudo da nossa vida. Nunca gostei de pais fofoqueiros deve ser por que os meus são exatamente assim. Meu pai então adora fazer amizade com os meus amigos. Isso quando não os convida para jogar videogame ou falar sobre futebol. Haja paciência!

Pipoca e refrigerante eram presença garantida em nossas reuniões que aconteciam uma vez por mês na casa de uma das integrantes. Desta vez, reuni as meninas em minha casa e no sótão, bem longe da minha mãe que estava me vigiando desde o acampamento. Ela sentiu que eu estava triste e não me deixava em paz desde então. Todos os dias, ela me acordava perguntando se eu estava sofrendo por amor ou se estava com dor de barriga. E eu gritava para ela me deixar em paz!

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